Sábado, um dia que não lembro e nem tento, de agosto, dia cinza, muito frio.
Acordei com um telefonema, voz elétrica, ao mesmo tempo cansada, turva...era ele, querendo só ouvir minha voz, só o "alô" eu prolongo não sei como nem porquê a maioria das ligações dele e quase sempre acredito que ele me liga só pra saber como estou ou só pra pedir algum favorzinho bobo (sim, pq ele já fez mto mais por mim do q os pequenos favores q eu me ofereci a prestar como uma grande amiga íntima).
Ruim foi saber que ele queria desligar logo, e dizer "nem sei pq eu te liguei", isso é um soco no estômago, vc pode até pensar, mas dizer? ah não...sem chance! mas tudo bem, falou e disse.
Falou e disse mais:"estou ate agora acordado, cheguei a pouco, estou trincadasso", choquei, pasmei, coração bateu forte, as pernas amoleceram, enjoô, pavor, dor de cabeça, confusão total.
Entrei naquele fusca 77 verde escuro do meu vô, a herança, a lembrança...as lembranças e o medo de perder mais alguém nesta vida. Minha mãe tentava falar algumas coisas pra mim, algo sobre o dia dela, sobre como seria a manhã e como seria o fim do dia...como se sempre pudéssemos deixar tudo dito e planejado pra concluir no final do dia. Eu não ouvia, eu não tinha mais certeza das incertezas...eu só sentia.
Chegando no trabalho, enfiei numa fúria e rapidez a mochila no armário de funcionários, olhei minha sala pra ver se tinha algum cliente em espera, tudo tranquilo, tudo ambíguo na verdade.
A tranquilidade ambiente me dava mais pânico, antes tivesse alguém a me esperar, assim eu iria agir mecanicamente e abstrair qualquer mal estar já instalado por aquela ligação que amoleceu meu coração e todos os meus outros músculos, parecia que até meus ossos estavam pra quebrar.
Bem...corri até a banca de jornal, quis aproveitar o esqueiro pendurado pra acender meu cigarro, e lembrei que não podemos mais fumar em locais com marquises, merda! bradei em meus pensamentos, tudo que eu queria era um cigarro e um café, o café eu antecipei no trampo, só faltava un tragos e o cartão telefônico. Comprei e corri do outro lado da rua para um orelhão, liguei, chamou e ninguém atendia, pensei "caralho, ele morreu", tentei no celular e ele atendeu, "UFFA". voz calma, macia, carinhosa, me chamou pelo apelido carinhoso de antes, amoleci, amoleceu...merda! caralho, filha da puta, aquela musiquinha da avril lavigne é odiosamente de um refrão real "get out of my head, get out of my bad..." era isso, era isso mesmo q eu precisava dizer e não consegui. o problema não é o amor, o problema é o costume de gostar de ajudar, de se sentir mãe, devocional demais, emocional demais...de sentir que se vc deixar tudo como está e sair de cena, vc pode sem querer em pequenos segundos fechar as cortinas [antes do tempo natural da vida, do destino...]
Isso ficou mais calmo, conformei - me com tudo, e aceitei que nada vai ser como antes, que ele não vai cair na real, que ele ta se machucando pra me fazer perceber mais ele, por orgulho ou por estar muito na merda e se arrepender de tudo q disse ou do que não disse de bom ou ruim.
Voltei ao trabalho, trabalhei com maestria e de forma mecanica, pensamentos vagando, ora em euforia nervosa, ora em melancolia semi-distanciada. era eu, eu mesma dentro do meu eu solitário, sombrio e esperançoso sim, sempre sempre.
Minha irmã faltou no trabalho e me fez prometer que ajudaria ela num pacto artístico: ela queria ver a competição do grupo de ginastas que ela um dia fez parte e recordar pra sentir a verve na vida. eu a ajudei, forjei uma pequena mentira e ela doente ficou, vendo a banda passar, contando e cantando coisas de amor, dentro dos seus sonhos de menina, dentro das suas lembranças bonitas, e reencontrou amigas de treinos e ensaios, viu cores e brilhos, e voltou com os olhos radiantes de alegria e emoção, foi a única coisa que pagou o ato falho "mentir".
No fim do dia, cansada do tédio trabalhista...eu e mais alguns comparsas, fomos andar a esmo pelo gonzaga, tentar sentir uma brisa noturna fresca e ver pessoas, brincamos com coisa séria, um menino que estava em nossa companhia tomou uma ombrada feia, me assustei mas não perdi a piada. continuei rindo alheia ao que poderia vir a ser uma briga feia...foda-se, a vida é lutar e lutar é sempre brigar com algo, brigar por...algo.
Muita fome, rodamos demais, muitas pessoas transeuntes dando vertigem somada ao cansaço/tédio/fome..."vamos vamos, lá o lugar é ótimo, sempre como lá, ela tbm...a anos..."
E lá fomos, sentamos...olhamos e pedimos, veio, começaram a comer, eu olhei um pouco, peguei o primeiro pedaço da torta, achei absurdo q tinha mais azeitonas do que uma torta só feita de azeitonas, a chatice é gritante nessas horas de fome, parece q não como qualquer coisa só que baste ela, parece que eu me torno arrogante-gourmet do mundo, é terrível. Mandei trocar, não pedi, mandei...estiquei os braços e senti que o moço qdo me olhava pra pegar o prato, senti que ele quisesse torcer meus braços até me fraturar expostamente! ahhhh, que coisa!
Veio outra, o mate gelado com limão era leve, doce-amargo bom...única coisa que me fez limpar um pouco o estômago depois de concluir o que era óbvio: quando vc reclama demais ou pensa que é certa demais nas escolhas, algo vem pra mudar tudo, e te sacaneia até as últimas aspirações do errado. Uma pequena barata amarelada, brilhante de barriga pra cima, no recheio da torta do amigo ao lado...enjoô 2 do dia! e todos se entreolharam com uma angústia raivosa.
"Não Anna, deixa deixa...vamos vamos..." "nem fodendo, não vou pagar e vou lá falar com o dono agora" GRANDE MERDA! não mudou e nem vai adiantar pras próximas: vitímas da falta de higiene e noção de bons serviços do mercado comercial escravo de suados cozinheiros barrigudos que recepcionam namoradinhas fogosas na calorosa cozinha industrial e se distraem atrasando o pedido urgente do seu horário de almoço curto e assim cometem pequenos delitos alimentares!!!
Volto pra casa, ônibus vazio, música boa...
penso que acabou...segunda feira tem mais? não segunda é dia de "away pessoal"
cama o dia todo, tv e paredes lilás.
e terça vai ser outra história, que eu contarei pros meus netos, mas antes preciso dos filhos, e antes preciso dos próximos dias.
quarta-feira, 12 de agosto de 2009
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Um comentário:
gosto de como o texto flui.
=~
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